domingo, 24 de maio de 2009

A vida na Soalheira

Vou-vos contar um pouco da história da aldeia do meu pai, que nasceu a 7 de Dezembro de 1964, na Soalheira, que pertence ao concelho do Fundão.
A minha avó era uma óptima cozinheira, por isso, o meu pai era um guloso. Ela fazia muito bem sobremesas: arroz doce, doce de amora, doce de tomate, farófias, o pudim de ovos caseiros feito no forno a lenha, broas de milho, pão centeio e os bolos caseiros. Também se comia muita cereja, porque estamos na zona da cereja. A minha avó cozinhava num fogão a lenha, um pouco velho.
Ainda não havia água canalizada, por isso, quando era preciso cozinhar, tomar banho ou até para beber, ia-se buscar à fonte, em cântaros enormes de barro.
Nos seus tempos livres, jogava à bola, com bolas feitas de farrapos velhos, à apanha, às escondidas, à macaca, e principalmente andava muito de bicicleta, porque na aldeia o meu avô tinha uma loja de bicicletas, onde as arranjava e construía. Na aldeia, havia um vício por este desporto.
Quando se estava doente com febre ou constipado, com dor de dentes, ou com as típicas doenças da infância, as pessoas mais velhas faziam as ditas “menzinhas” que eram remédios caseiros, feitos com ervas e produtos existentes na aldeia. Por exemplo, o chá de cebola ou cenoura para a gripe, um fio de alhos em volta do pescoço para a tosse persistente ou para as lombrigas….
Naquele tempo, as roupas eram feitas de tecidos grossos aos quadrados, calças à boca-de-sino, coletes, calções, camisas ao xadrez… Enfim, o que agora nos parece ridículo, na altura era moda.
O meu avô foi a primeira pessoa da aldeia a ter televisão, já que vinha de uma família com algum dinheiro. Assim, as crianças todas se reuniam à volta daquela “Maravilha” para verem os seus programas favoritos. Também nos dois cafés existentes na aldeia havia televisão. Aí, os adultos juntavam-se para beber um copo de vinho, jogar às cartas, às damas e ver os jogos de futebol, com os seus amigos.
Resumindo, na aldeia do meu pai, a vida não era nada monótona. Havia sempre que fazer, onde brincar e com quem brincar. Era saudável! Vivia-se em contacto com a natureza, com os animais e todas as pessoas se conheciam e viviam praticamente da agricultura.


O meu pai com a sua irmã e com uma amiga


João Chasqueira